sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Justiça

Certa vez uma cartomante de uma país qualquer do leste europeu, uma dessas ciganas que ficam na rua e por algum motivo falam uma língua que você entende, me disse que eu não teria filhos.

Não que eu realmente os queira: deve ser chato demais todo o trabalho e tudo. Admiro os países cuja taxa de natalidade é declinante e causa preocupações e tudo, costumam ter as pessoas mais legais - a Europa está aí para provar minha teoria. Entre filhos e um mochilão tardio pela África subequatoriana ou um intercambio na Mongólia está a diferença entre as pessoas legais e os outros. Não dá pra ler Guerra e Paz em paz (piada de pessoas que se casam e têm filhos) com uma criança chorando e uma mulher enchendo o saco.

Mas, acho que o fato de eu não vir a ter filhos é mais justiça divina. Quando penso em filhos, vislumbro um excelente canal de experiências práticas maneiras.

Nomes, por exemplo. Se um dia vier a ter uma filha, ela se chamará Svetlana. O apelido será Sveta. Não entendo quem insiste nos mesmos nomes de sempre, deve ser uma das causas da falta de personalidade das pessoas. Svetlana, invariavelmente, será uma criança com a alma russa - algo entre uma heróina sofrida do Dostoievski e uma consumidora compulsiva da Moscou moderna. Uma Ana Carolina está fadada a ser mais uma brasileira típica, com tudo de ruim que isso envolve, enquanto a pequena Franny (segunda filha) estará pedindo no aniversário de quinze anos uma viagem de 1 ano pelos mosteiros do Tibet e Nepal e Maljna (terceira filha) irá encenar Ibsen na escola aos seis anos.

Já Hades vai ser um gótico uberletrado, temido por todos na escola, e Svensson estará preparando os formulários para aplicar para a Universidade de Reykjavik enquanto Pedro, João e Gabriel pegam onda, escutam Bob Marley e acham uma chatiação ter que ler Machado de Assis para a escola - foi pra eles, de certo modo, que Brás Cubas disse "não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria". Há esperança.

6 comentários:

Taisa Sganzerla disse...

Quero ter filhos. Penso que aos 35 anos estarei no máximo possível do tédio e nem um na Russia, de Oeste a Leste, até o Alaska, me deixaria feliz - aliás, espero já ter ido à Russia quando completar 35 anos.

Meus filhos se chamarão Alexia, Athena (mulher), Andreas e Abel (homem). Já está decidido há tempos, apesar de que não escolhi todos os nomes começando a letra A propositalmente. Foi coincidência, gosto de nomes assim.

Taisa Sganzerla disse...

Só agora me ocorreu que o seu nome começa com A!

Dr. Edward Pointsman disse...

Athena será uma menina bacana.

Unknown disse...

Outro dia vi uma entrevista no Jools Holland onde tinha um músico de Jazz com uns 80 anos dizendo: -Pais, sejam legais com seus filhos e não incentivem eles com nenhum tipo de música, só assim eles se tornarão músicos de Jazz... Se vocês incentivarem, provavelmente eles se tornarão banqueiros...

Tá aí um bom conselho!

Ah, e não dar nomes duplos! Eu sempre assino Conrado A. por achar meu nome meio televisa.

Athena será uma menina legal mesmo, bem calma, curiosa... Agora a Alexia, não sei não, essa vai dar trabalho

Unknown disse...

Eu gosto de Pedro.

Pedro Vieira disse...

Se algum dia eu cometer um filho, vai se chamar Zorak

Se for mulher, Zorak Maria.

Mas as suas opções tb são boas. hehe