quinta-feira, 9 de outubro de 2008

De um Possível Livro de Auto-Ajuda

No melhor episódio de Coupling, "The Man With Two Legs", Jeff se apaixona por uma mulher da qual ele consegue ver todo dia no trem, alguns bancos à sua frente, apenas a nuca e a perna esquerda, sempre dobrada. Um dia, após inúmeras viagens, a mulher dá lugar a uma obesa e resolve mudar de banco, vindo se sentar na frente dele. A mulher é linda e Jeff, obviamente, congela e não consegue saber o que fazer. No desespero, começa a dizer coisas como "i see you have the other leg too. Well, it's good to have both legs. Not that I'm an amputater, it's just that it's good to have...legs", até que a mulher pergunta o que o incomodava tanto e ele responde que não tem a perna esquerda. Depois, a mulher começa a sair com ele - ela entende o problema, o irmão também é amputado - e Jeff foge todas as vezes em que vão acabar sozinhos na casa dela pois não tem como desfazer a mentira da perna. Jeff caiu no erro da mentira sem prazo de validade.

A mentira inofensiva é uma arte. Quando bem contada, pode se transformar em uma dos mais poderosas benesses que alguém pode fazer ao mundo.

No táxi, costumo sempre ser outra pessoa. Gaúcho, argentino e grego são três personagens recorrentes. A benesse da mentira está na diversão que você está dando a si mesmo e também ao outro, no caso do taxista. Não irá fazer diferença alguma na vida do sujeito se eu for carioca ou gaúcho - e, algumas vezes, ele até dá uma voltinha a mais pra enganar o sujeito de fora, que pago com maior prazer para ele como esforço de platéia ou algo do gênero - mas garanto que os momentos de diversão dele serão infitamente maiores discutindo se o grêmio irá ser campeão brasileiro ou contando piadas de gaúcho para mim do que se fosse a mesma discussão de sempre. O mundo está mais feliz.

Há inúmeras outras formas de mentira inofensiva, como ser músico sertanejo para seu companheiro de avião num longo vôo para Manaus - "prometo vê-lo no show amanhã, Juvenal" foi a frase dele quando nos despedimos - ou especialista em restauração de pedras portuguesas numa visita a um mosteiro no interior de Minas.

Um dos fatores a ser observado é não se empolgar na mentira, de modo que ela saia do controle. Certa vez, em Praga, estava numa boate com uma camisa com a frase "Stunt School" e uma menina - linda linda de morrer como só o leste europeu é capaz de proporcionar - veio me perguntar se eu era um dublê. Respondi que sim, tinha estudado em uma famosa escola do Brasil e tal, e foi o suficiente para abrir a guarda do sorridente anjo na minha frente. Bastava o próximo passo e a noite teria sido maravilhosa para todo mundo - eu teria um anjo e ela teria tido uma noite com um famoso dublê brasileiro. Mas, na empolgação, resolvi estender a mentira além do que era necessário: comecei a simular quedas na pista de dança, como seria tomar uma garrafada na cabeça no bar, etc. Fiquei todo melado e sujo daquela gosma de chão de boate e a menina, constrangida, sumiu.

Uma importante regra da mentira infoensiva é seu prazo de validade: ela nunca pode durar mais do que 24hs. Caí no erro de simular ser thceco e um amigo croata em um bar que frequentava muito há alguns anos. Claro que as 10 caipirinhas que tomamos num outro bar antes contribuíram, mas é preciso ser forte nessas horas. Em poucos minutos, o tcheco e o croata haviam se transformado na atração da noite, cercados de gente. Obviamente minha super mentira foi um sucesso e terminei a noite com uma menina que adorava minhas histórias da infância na Boêmia. Na semana seguinte, de volta ao bar, escuto uma voz chamando "Peter"e demoro a me dar conta que era a mim que a menina chamava, a mesma da semana anterior. Sumi de lá em 5 minutos e passei alguns meses longe do bar. A mentira inofensiva havia se transformado num monstro gigantesco, como a mentira da perna de Jeff.

"Mentira Inofensiva - Fazendo a Humanidade Mais Feliz" poderá ser meu primeiro livro de Auto-Ajuda.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Obras-Primas Atuais

"A Evolução do Comunismo na Pelagem Facial de Seus Líderes" - Arte Revolucionária Chinesa

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Justiça

Certa vez uma cartomante de uma país qualquer do leste europeu, uma dessas ciganas que ficam na rua e por algum motivo falam uma língua que você entende, me disse que eu não teria filhos.

Não que eu realmente os queira: deve ser chato demais todo o trabalho e tudo. Admiro os países cuja taxa de natalidade é declinante e causa preocupações e tudo, costumam ter as pessoas mais legais - a Europa está aí para provar minha teoria. Entre filhos e um mochilão tardio pela África subequatoriana ou um intercambio na Mongólia está a diferença entre as pessoas legais e os outros. Não dá pra ler Guerra e Paz em paz (piada de pessoas que se casam e têm filhos) com uma criança chorando e uma mulher enchendo o saco.

Mas, acho que o fato de eu não vir a ter filhos é mais justiça divina. Quando penso em filhos, vislumbro um excelente canal de experiências práticas maneiras.

Nomes, por exemplo. Se um dia vier a ter uma filha, ela se chamará Svetlana. O apelido será Sveta. Não entendo quem insiste nos mesmos nomes de sempre, deve ser uma das causas da falta de personalidade das pessoas. Svetlana, invariavelmente, será uma criança com a alma russa - algo entre uma heróina sofrida do Dostoievski e uma consumidora compulsiva da Moscou moderna. Uma Ana Carolina está fadada a ser mais uma brasileira típica, com tudo de ruim que isso envolve, enquanto a pequena Franny (segunda filha) estará pedindo no aniversário de quinze anos uma viagem de 1 ano pelos mosteiros do Tibet e Nepal e Maljna (terceira filha) irá encenar Ibsen na escola aos seis anos.

Já Hades vai ser um gótico uberletrado, temido por todos na escola, e Svensson estará preparando os formulários para aplicar para a Universidade de Reykjavik enquanto Pedro, João e Gabriel pegam onda, escutam Bob Marley e acham uma chatiação ter que ler Machado de Assis para a escola - foi pra eles, de certo modo, que Brás Cubas disse "não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria". Há esperança.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

De volta, ou de ida

De volta da Ásia. Lugar estranho, comida estranha. Mas, dá pra fazer um top 5.

Top 5 coisas da viagem à China:

1. Fazer escala em Paris;
2. Comprar cartazes de propaganda comunista da Revolução Cultural de um velhinho num Hutong;
3. Conhecer uma mulher da Letônia;
4. A arquitetura bizarramente arrojada dos novos edifícios comerciais de Beijing: uma mistura de Manhattan com Taj Mahal;
5. Assistir Bienvenue chez les Ch’tis no vôo e conseguir rir com uma comédia francesa.

Menção honrosa: espetinho de cavalo marinho, sopa de barbatana de tubarão e estômago de peixe defumado.

Troféu abacaxi: a "empolgante" noite chinesa.

domingo, 3 de agosto de 2008

We Are The Custard Pie Appreciation Consortium

Só houve um artista musical no genial 1968: o LSD. É mais ou menos como os livros psicografados: White Album, LSD psicografado por Beatles; LSD, psicografado por Syd Barret, e por aí vai. Um grande autor, morto há tempos e substituído pela cocaína que fez aquele estrago todo nos anos 70.

Diz-se que o uso do ácido potencializa sentimentos. Como o uso foi generalizado, cada país respondeu de um modo: os franceses protestaram ainda mais do que o normal, os italianos começaram a consumir rock progressivo alucinadamente, os suiços permaneceram suiços, os alemães foram fazer terrorismo, os americanos extravasaram seu vazio ficando nus nos parques (mas alguns se sobressaíram), os russos invadiram um vizinho, os brasileiros baixaram o AI-5 e os britânicos se tornaram ainda mais britânicos, o que é tão genial quanto o mundo pode atingir.

Digo isto enquanto ouço um álbum que descobri hoje. É animador, mas também vergonhoso, descobrir uma banda dos anos 60 nesta altura da vida. Não que eu não conhecesse The Kinks: só nunca tinha entrado a fundo na carreira deles para sair das músicas mais conhecidas e descobrir o álbum mais genial da história, The Village Green Preservation Society. Genialidade britânica em seu auge.

Não surpreende que o álbum não não tenha feito sucesso algum na época do lançamento. Enquanto alguns cantavam a revolução e outros falavam de gnomos, The Kinks apareceu com um álbum amalucado que misturava sarcasmo com saudosismo, letras brilhantes e músicas sensacionais - "help save the little shops, chinese cups and virginity" não parece ser um bom lema para 1968. Um álbum que poderia ser filho de Syd Barret com Simon & Garfunkel e Dylan Thomas. Suruba perfeita. Quem não conhece - como eu não conhecia até hoje - com certeza está tendo uma vida menos feliz do que poderia. Eu ainda tento entender como sobrevivi tanto tempo sem esse álbum (pra não falar do seguinte, Decline and Fall of the British Empire, outra obra-prima).

Mas, bem, isso me traz de volta a 1968. Um top 5 álbuns de 1968 deve ser refeito para encaixar a obra-prima. Claro que o autor é sempre o LSD, mas vou rankear por artistas que psicografaram as obras.

Top 5 álbuns de 1968

1. The Village Green Preservation Society - The Kinks
2. A Saucerful of Secrets - Pink Floyd
3. Os Mutantes - Mutantes
4. The White Album - The Beatles
5. Bookends - Simon & Garfunkel

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Dos Grandes Clássicos Literários Que Não Li

Tudo Que Você Pensa, Pense ao Contrário - Paul Arden

“Brilhante, da pesada, encantador, irrascível e totalmente excêntrico — Paul Arden é um pensador original com extraordinário ímpeto e energia, abençoado com um gênio criativo aliado a um tipo de bom senso que não é nada comum.” - Roger Kennedy, Saatchi Saatchi

"Eu gostei do livro" - Dr. Edward Pointsman, KBE, logo após a leitura


Eu nunca soube que a Bíblia tinha sido escrita por Paul Arden: na capa do livro, abaixo do título, há "Paul Arden, autor do livro mais vendido do mundo".

Mas, bem: de escritor da Bíblia a escritor de livros de auto-ajuda reversa. Um passo e tanto. Para trás.

Paul Arden é um publicitário de sucesso. Roberto Justus também é um publicitário de sucesso, o que acaba com o primeiro grande argumento a favor do livro. Talvez a palavra sucesso seja um contra-argumento poderoso a qualquer um que se pretenda bom. A grande recomendação do livro também parece vir de um publicitário de sucesso, talvez seu ex-estagiário na empresa onde trabalhou por anos e anos. Tem algo muito errado.

O processo de criação de livros de auto-ajuda é simples: invente uma fórmula - qualquer uma, não importa -, desenvolva-a do modo mais raso e direto possível para que até um macaco lobotomizado a entenda e passe o resto do livro embromando. Ache a editora certa, coloque-o à venda por R$ 29,90, anuncie na parte traseira dos ônibus e, voila!, você será um sucesso. Talvez venda até mesmo mais do que a Bíblia e desbanque Paul Arden.

Mas, voltando ao livro: o autor, supostamente, faz uma crítica aos livros de auto-ajuda "que estão por aí", livros que seguem uma lógica associada ao senso comum e rudimentos de psicologia. "O problema de tomar decisões sensatas é que o mundo está fazendo o mesmo". Até aí, brilhante: estaria o autor proponda uma "tática Coringa" para espalhar o caos pelo mundo?

Obviamente, longe disso. O autor passa o resto do livro tentando nos provar que a pessoa precisa ser ousada. E só. Por trás de citações de filósofos, cientistas, políticos e dinossauros extintos, uma lógica que consegue ser mais rasa do que a dos livros que ele critica. "Me surpreenda" é o mantra de Paul Arden, do começo ao fim do livro. Ser ousado me parece um tantinho diferente de não tomar decisões sensatas. Ou ousadia e sensatez são conceitos excludentes?

O livro, claro, é sempre cheio de exemplos. Um deles: Paul Arden, um homem nu ao seu lado e uma platéia. O mote: "esse cara nu poder ser qualquer coisa: milionário, ministro, padeiro. Basta querer". Uau! Tivesse o homem nu lido o livro, poderia surpreendê-lo: "eu sou economista", poderia gritar e acabar com a palestra; poderia tocar um orgão e gritar "it's", que é tudo que se espera de um organista nu; poderia até mesmo matá-lo ("posso ser um assassino, há"), que seria a mais sensata coisa a se fazer segundo os sábios ensinamentos do Justus inglês.

E, por fim, há o grande paradoxo do livro: se tudo que eu pensar, pensar ao contrário, cria-se um círculo vicioso sem fim: eu penso de novo ao contrário, e de novo, e de novo, criando um campo de pensamento e anti-pensamento que pode levar a um buraco negro mental. Talvez isso aconteça com aqueles que seguirem os ensinamentos. Certeza de que isso aconteceu com o autor.

Melhor ficar com a Bíblia.

terça-feira, 29 de julho de 2008

O Mundo é um Circo

A grande graça do Batman novo é que o Coringa é quase um personagem do Pynchon, solto ali, no meio de tantos normais. Sozinho, ele é capaz de transformar um filme que deveria ser apenas ok em uma epopéia caótica como há muito nao vejo.

Leibniz foi uma espécie de filósofo - Pollyana: acreditava que vivíamos no mais perfeito dos mundos. Foi preciso Voltaire (e o terremoto de Lisboa, dizem) para acabar com a palhaçada: Cândido ou O Otimista é uma das mais geniais obras de destruição satírica de todos os tempos. E, o que é melhor: não propõe nada. Esqueça o mundo maravilhoso: é o caos, e pronto.

A tentativa de domar o caos no mundo é, apenas, um modo de chatear ainda mais as coisas. Para quê esperar que tudo siga uma ordem pré-estabelecida?

Em um dos melhores episódios de Bob Esponja, Lula Molusco, cansado, se refugia em um local maravilhoso onde todos são iguais a ele. Um tempo depois, cansa tanto daquilo que resolve fugir antes que desse um tiro na cabeça e volta ao convívio com Bob Esnponja e Patrick. Não há tanta diferença entre o Coringa e o Bob Esponja.

Em oposição ao mundo de Lula Moluscos há o mundo de Pynchon: paranóico, absurdo, caótico. Não chega a ser o mundo como ele é - embora, em alguns momentos, ele realmente fique assim - mas é o mundo como ele deveria ser. Melhor dos mundos é uma ova: vamos bagunçar esse negócio!

Se não temos um Coringa no mundo real (não?), temos alguns exemplos de pessoas que tornam tudo mais divertido mesmo em condições que, seguidas as regras, deveriam ser uma chateação só. Vejam o Hugo Chavez: o cara é capaz de levar qualquer um às gargalhadas. Em meio a enfadonhas cúpulas presidenciais, é o único do qual se pode esperar qualquer coisa que preste - até mesmo levar um rei a loucura. Em contraponto, imaginem um mundo onde todos os líderes são o Gordon Brown ou o Jaques Chirac? Eu não sei vocês, mas eu daria um tiro na cabeça.

Por quê nossos vilões reais não podem ter senso de humor? Quem precisa de um sujeito como o atual presidente do Irã? A ele devemos realmente temer: o sujeito não ri nunca, e só alguém sem senso de humor é capaz de ameaçar o mundo. Já chega a chatice toda do status-quo americano: queremos vilões engraçadosm, e a eles não devemos temer! Sadam Hussein era um chato de galocha, mas eu aposto que o Iraque não teria sido invadido se, em lugar dele, estive no poder o hilário Ministro das Informação Mohammed al Sharaf - aquele que jurava que os americanos não estavam nem a 100kms de Bagda e que tudo não passava de um filme de Hollywood enquanto, ao fundo, os tanques americanos percorriam a rua principal. O maior líder da União Soviética foi Kruschev - responsável pela única genialidade em 80 anos de chatice comunista - que, ao se irritar numa reunião com o americanos, tirou o sapato e começou a bater na mesa, aos gritos. Falta graça aos líderes africanos e o casal Kirchner me faz dormir por três dias seguidos, mas o mundo se torna um lugar um pouquinho melhor quando o Kadhafi resolve ser piadista, o líder da Coréia do Norte troca um reator nuclear por algumas Ferraris e Porsches e o Lula diz que sua mãe nasceu analfabeta. Estivesse no poder em lugar ao certinho Guilherme II, o alucinado Rei da Baviera Lwdwig II teria enchido a Alemanha de castelos sensacionais e festivais de música e não invadido seus vizinhos.

Já que o mundo é um circo, não é muito pedir que, ao menos, os palhaços sejam bons.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Sobre Classificações e Caixas

Não quero crer que Casablanca seja um filme de amor. No fundo, não é: trata-se de uma das maiores metáforas geopolíticas de todos os tempos. Filmes de amor, assim, deliberadamente, não são dignos. Os grandes filmes podem até ter uma aparência tal mas, reparem, é só aparência. Ou, muitas vezes, nem isso. Um grande diretor não se preocupa com amor - ele foge do amor, como bom diretor que é (e, claro, amor por dinheiro ou pelo poder não é amor).

Senão, vejamos: Alex de Large não ama nada nem ninguém (exceção a Beethoven, talvez). Qual a grande cena de amor de 2001? Dr. Strangelove, como o nome diz, é um grande caso de amor coletivo por bombas atômicas. Acho que não se encaixa.

Mas, mudemos de diretores: Barton Fink é só uma pervertido sexual. Steve Zissou é espetacularmente fã de si mesmo e mais ninguém. O único caso de amor em Apocalypse Now é com o cheiro de Napalm pela manhã. A redença dos personagens de Magnólia não tem relação alguma com o amor - ela é existencialista, conformista como poucas: é essa merda aí mesmo mas pra cima com a viga, moçada! E não se pode imaginar que a cabecinha doente de Antoine Doinel comporte um sentimento de amor por quem quer que seja.

Mas, dizia de Casablanca: podem ver, é a grande metáfora geopolítica de 1941. Rick, os Estados Unidos: grande, rico, desejado por todos. Mas, sem coração, alma ou escrúpulo. Ajuda a todos e não ajuda ninguém. O pau comendo logo ali mas uma grande indiferença em relação a tudo. Já Lazlo é o comunistinha clássico, prenúncio do que viria se tornar o leste europeu no pós-guerra. Aparência de São Francisco de Assis, alma do demo. Contra os nazistas e os capitalistas (como pode em um local com tanta mulher bacana como o Leste Europeu as pessoas pensarem em revolução enlouquecidamente? Onde está o amor? hein? hein?). Captain Renault, o francês ambíguo. Os alemães vieram e fizeram a farra, mas os franceses não perdem a pose enquanto, no fundo, se tornam simples vassalos dos vizinhos do leste. E, por fim, Ilsa Lund, a Suécia. Neutra, indecisa, flertando com todos os lados (e fornecendo seu precioso minério a todos os que pedirem com carinho). Não tem nadinha de amor ali. Nem um tiquinho, nada.

E, claro, o pianista Sam é um desvio escravocrata que o mundo deixou passar.

Ao final, Rick deixa sua posição blasé, declarando guerra ao Eixo e se aliando ao amigo Francês, com quem tinha relações ambíguas até então. This is the beginning of a beautiful friendship. A Sueca vai pro país neutro (onde, acredito, continuou a fornecer sue minério de ferro a todos que pediram com carinho) e o comunistinha vai fazer barulho em outro lugar antes de desfilar com o Exército Vermelho em Budapeste ao final da guerra.

E, para terminar, uma análise da metáfora geopolítca do filme sob outro aspecto (retirada do blog "Estrada Nacional 101").

No inicio do filme «Casablanca», há uma cena no Café Américain* onde Rick Blaine (Humphrey Bogart) fala com Ugarte (Peter Lorre). Aí, Bogart analisa uma posição no tabuleiro de xadrez que é precisamente a resultante do Ataque Alekhine na Defesa Francesa. Não é uma mera coincidência que Bogart tenha escolhido a Defesa Francesa e analisado a posição para as negras no filme «Casablanca», é que existe uma verdadeira metáfora. Na realidade, o tabuleiro de xadrez representa o campo de batalha, o ataque Alekhine a «blitzkrieg» (táctica de guerra relâmpago utilizada pela Alemanha nazi), a estrutura de peões a linha «Maginot» (famosa e, na altura pensava-se, intransponível linha de defesa Francesa) e a posição do cavalo o ataque pela retaguarda…Humphrey Bogart já jogava xadrez há muitos anos, tendo chegado a jogar por dinheiro no período da «Grande Depressão».Outra curiosidade é que Humphrey Bogart, Paul Henreid e Claude Rains jogaram xadrez durante toda a rodagem do filme.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Das Paixões de Marco Olsen

Marco Olsen se apaixonaria por uma mulher que:

a) foi pra Sorbonne e tem um apartamento bacana na Boulevard St. Michel

b) fala como Marlene Dietrich e dança como Zizi Jeanmaire

c) roubou um quadro do Picasso e vai esquiar em St. Moritz

d) bebe Napoleon Brandy e não molha os lábios

e) tem as roupas feitas por Balmain e passa o verão em Juan Les Pins

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Dos Grandes Filmes Que não Verei

Novo Filme de Steven Spielberg - julho de 2011

O que dizer de mais uma parceria de Spielberg e Tom Hanks no cinema?

Não satisfeitos em atormentar a humanidade com pérolas de ruindade tais como Prenda-me se For Capaz, O Resgate do Soldado Ryan e o incrível O Terminal, a dupla retorna em grande estilo neste filme que vem batendo recordes de arrecadação nos Estados Unidos.

É verdade, como certa vez disse um grande amigo, que no Brasil, o que é popular é ruim, sempre. Mas isso é uma meia verdade: nos Estados Unidos, acredito, também.

Tom Hanks é um dos clássicos atores que poderiam ter sido mas não foram. Tivesse mantido o brilhantismo de começo de carreira, estaria hoje entre os grandes heróis americanos ao lado de nomes como Steve Buscemi e Bill Murray. Ao invés disso, o máximo que consegue é dar nome a gatos de quarentonas solteiras.

Já Spielberg é o criador que já foi mas deixou de ser há muito tempo. Está preguiçoso, coração mole - um tubarão devorando pessoas por aí vai aterrorizar crianças, oh céus! - e um tantinho lento, aparentemente, por ter que explicar demais as coisas. Uma pena, mas algo aconteceu com a talentosa geração de diretores surgida nos anos 70 e que hoje vive da fama e na preguiça - vide Coppola (este, ao menos, faz vinhos) e Scorcese.

Pois a junção de um ator medíocre com um diretor preguiçoso não poderia dar outra coisa que não um filme popular e muito ruim. Tom Hanks quer ser fofinho e engraçado mas só fica realmente engraçado quando tenta ser um ator sério. Spilberg abusa do clichê, da "emoção" e da trilha sonora de John Williams. Deveriam trancá-lo numa sala por uma semana ao som de Ennio Morricone para ver se daria alguma solução.

O filme até tenta começar bem: Tom Hanks faz o papel de Elliot, um executivo que perde sua filha numa montanha russa em um parque de diversões de Nova Iorque. Segue-se um leve desespero até que ele resolve adotar uma pequena menina afegã muito parecida com a sua filha.

A partir de então, inicia-se um tremendo blah blah à la "americano ensina afegã coisas "civilizatórias"; afegã ensina americano a ter coração". O executivo que "acordava e deixava o coração na gaveta todo dia antes de ir ao trabalho" passa a dizer bom dia aos passarinhos, a agradecer as pessoas, a sorrir na fila do banco e mais um monte de coisas. Nessa hora o não-talento de Tom Hanks aparece com maior nitidez e o filme, involutariamente, se torna engraçado pra burro.

A menina se torna adulta, se forma em Harvard e é a pessoas mais legal do mundo - feliz, inteligente, engraçada, amorosa, pró ocupação do Iraque. Após a formatura, resolve ajudar as pessoas de seu país natal.

Uma nova perda na vida de Elliot? Logo agora que ele estava prestes a ganhar de vez o coração do Mágico de Oz?

Não, Spielberg não pode deixar a família americana na mão! A menina afegã se vai, segue-se um leve desespero e então - coloquem a música do John William no máximo!!! - sua filha reaparece. Confesso que as lágrimas me impediram de ver o filme por uns 5 minutos (mas não de ouvir a desgraçada da música). Lágrimas de tanto gargalhar, claro.

Os últimos 30 minutos são o momento "atenção todo mundo, vocês também podem se tornar pessoas melhores!", misturado a explicações sobre o desaparecimento da menina numa cena que poderia perfeitamente estar em algum Scooby-Doo - "meu plano estava indo muito bem até aparecerem esses intrometidos". E mais John Williams, e mais patetice na atuação de Tom Hanks e...acabou! Ufa...

Ao final, todos sorrindo e a certeza de que em alguns minutos tudo aquilo já terá sido esquecido.

Ah sim, a cotação do filme é uma cadeira vazia. O bonequinho, sabiamente, não foi. Preferiu ficar no café ao lado do cinema relendo A Menina no Tempo, do McEwan, se perguntando se algum dia Spielberg o leria...

domingo, 20 de julho de 2008

Dos Grandes Contos Que Nunca Escreverei

Diz-se que, antes de iniciar seu monumental O nome da Rosa, Umberto Eco escreveu a história de cada um dos monges que apareceriam no livro, mesmo os mais secundários.

Salinger é globalmente conhecido por seu romance mas conseguiu, em alguns contos, criar o mais sensacional retrato de um personagem - no caso, uma família - que a literatura já foi capaz de produzir.

Pois bem: um amigo está preparando um romance e me pediu para sugerir um personagem. Pragmático como Umberto Eco e ambicioso (mas infinitamente menos talentoso) como Salinger, escrevi um conto que, acredito, contém toda a essência de nosso amigo Marco Olsen, um dos grandes fregueses da livraria que será o tema do romance.


E por quê não uma pinhata cheia de bala de melão?

Ao ouvir, ao longe, a palavra Pynchon, foi ao chão. A trilha estava lisa, é verdade, mas já estava em seu terceiro dia de caminhada e ainda não havia escorregado. Certificou-se de que não havia quebrado nenhum osso, mas não gostou de ver suas meias completamente sujas de lama. Três meninas vieram ao seu encontro fazendo perguntas num norueguês que ele pouco compreendeu. Apesar de já estar no país há 6 meses, ainda era difícil entender certos sotaques de regiões mais remotas.

Respondeu que estava bem numa mistura de norueguês de Oslo — não muito bem visto em outras regiões do país — com um forte sotaque latino, o que levou as meninas às gargalhadas. Que se transformaram em sorriso ao descobrirem que era brasileiro. Era sempre bom dizer que era brasileiro. Quando viu, estava caminhando junto a elas e resolveu não perguntar nada, apenas continuar. Eram simpáticas, é verdade, mas não se poderia dizer que teriam muita chance no seu concurso interno de meninas das trilhas.

Era seu primeiro verão na Noruega e resolveu que não visitaria o Brasil. O país era outro nesta época do ano, com todas as pessoas numa felicidade tal que pareciam estar bêbadas constantemente, como se uma madrugada de sábado no Jobi se estendesse por três meses (e com o agravante de se estar rodeado de loiras maravilhosas). Havia entrado de sócio recentemente na Norwegian Trekking Association que consistia, basicamente, em uma série de cabanas espalhadas pelas montanhas onde todos os sócios têm livre acesso para pernoitar enquanto caminham pelas bem sinalizadas trilhas. Na prática, locais para se conhecer pessoas e encher a cara. Como poderia ele voltar para o Brasil e abrir mão de tal maravilha?

Os dois primeiros dias não haviam sido muito bons em conhecer pessoas, mas a paisagem compensava. Talvez fosse até melhor estar sozinho. Agora, porém, já sentia falta do contato com outras pessoas — e, principalmente, precisava fazer logo algo a respeito das inúmeros paixões que o atacavam pelo caminho.

Pensava nessas paixões enquanto conversava distraidamente com uma das meninas que havia conhecido há pouco. Pensava, principalmente, na voz feminina que havia dito a palavra que o havia levado ao chão há pouco. Era mais uma paixão, sem dúvida — Pynchon era capaz disso — mas uma paixão sem rosto. Ficou feliz de não ter sido nenhuma das suas atuais acompanhantes.

Chegaram a um lago onde havia uma cabana. Apesar do sol ainda brilhando, já passava das 8 da noite e o lugar parecia interessante para pernoitar. Suas novas amigas preferiram continuar o caminho até a próxima cabana e ele partiu em direção ao lago. Sentia uma forte vontade de tomar vinho. Lembrou-se que trazia uma garrafa de cachaça na mochila e talvez fosse uma boa noite para utilizá-la. Precisava fazer amigos. Não havia embarcado no passeio apenas para meditar.

Seguia pela pequena trilha que levava a cabana indicada no mapa quando se lembrou de que a primeira impressão que causara nos pernoites anteriores não havia sido das melhores. Talvez fosse uma boa idéia colocar sua camisa da seleção brasileira de futebol. Ao abrir a mochila e pegar a camisa, deixou cair sua velha edição de “The Crying of Lot 49”, de Thomas Pynchon. Já o havia lido umas quinze vezes, mas nunca nas montanhas da Noruega, motivo sempre nobre para a releitura de um grande livro.

Sentia-se bem com a camisa do Brasil. Sentiu vontade de gritar “Deus é brasileiro” ou qualquer outro ufanismo bobo do gênero, mas logo em seguida se sentiu um tanto estúpido pela idéia. Gostar de seu país natal era um sentimento novo, mas era preciso refrear seus impulsos para não agir como uma criança. Ao se aproximar da cabana logo ouviu um “Velkommen Brasillianer!”: uma linda menina o saudava. Sentiu-se um gênio por ter colocado a camisa.

Entrou na cabana e se deparou com uma linda cena: ao redor de uma grande mesa de madeira, vários jovens faziam um ritual de bebida. Pareciam bastante bêbados — e havia três dias ele não via uma pessoa bêbada, um fato raro na Noruega — e havia muitas meninas entre eles. Era tudo que precisava. Tudo bem que a caminhada havia sido bacana até ali, as paisagens eram realmente incríveis e o verão na Noruega algo que ele nunca experimentara antes, mas, no fundo, queria fazer bagunça e beber, de preferência com lindas norueguesas. E por quê haveria de ser diferente?

Saudou a todos e foi logo chamado ao ritual. Reconheceu a garrafa, já havia visto uma igual em Praga: absinto havia sido sua perdição naquela cidade, e parecia que seria novamente ali. O ritual consistia em encher metade de um copo com absinto, molhar um torrão de açúcar com a bebida em uma colher, colocar fogo, deixar que o açúcar queimasse e se esparramasse em pequenas bolas de fogo pelo copo (que também passava a ficar em chamas), gritar qualquer coisa e beber tudo. Tão fácil quanto andar de bicicleta.

Já estava na sua sétima dose — e seu norueguês fluía como nunca, ou pelo menos ele assim pensava — quando se lembrou da cachaça. Tirou a garrafa da mochila, fez uma breve explicação sobre a bebida e encheu os copos aos gritos de “Brasil!” por parte de todos. Estava radiante.

Não sabia quanto tempo havia se passado desde que chegara à cabana — poderiam ser 20 minutos ou 2 horas, e ainda estava claro, o que não queria dizer muita coisa no verão norueguês — quando um novo grupo de pessoas entrou. Uma delas carregava um livro e perguntou se era de alguém por ali, haviam achado na trilha: sua preciosa edição do Pynchon! Recuperou seu livro agradecendo muito ao jovem que o havia encontrado — jura que não chegou a se ajoelhar, embora os outros digam que sim. Estava para colocar de volta o livro na sua mochila quando foi abordado por uma menina que ele não havia notado direito antes – ela não estava participando do ritual e observava tudo deitada no tapete da sala consumindo seu Snus, embora também estivesse bebendo:

— Ei, brasileiro, você está lendo este livro?

Talvez a menina o quisesse emprestado para ler de noite, ou talvez trocar por outro, isso era comum por ali. Não queria parecer antipático nem nada, mas não gostava que “mãos infiéis” tocassem na sua preciosa edição.

— Bem, na verdade eu já li...umas...28 vezes. Mas nunca aqui nas montanhas da Noruega. Bem, ainda não havia lido na Noruega. É que...

Sentiu-se um idiota (como na maioria das vezes) e tentou contornar a situação, algo que, se já não fazia muito bem em situações normais, fazia ainda pior depois de meio litro de absinto.

— Não é brasileiro...só a bebida, mas não o livro. Não tem muita coisa que presta no Brasil em termos de literatura. Bem, tem um, mas não muito mais do que isso. Dois, talvez. Mas... esse aqui é melhor.

A menina continuava olhando. Talvez fosse lhe dar um soco. Não sorria, não esboçava reação alguma: havia congelado, mais do que o habitual até para os congelantes padrões emocionais nórdicos. Talvez estivesse prestes a soltar uma gargalhada, ou apenas jogar uma torta em sua cara. Talvez...

Mas, neste momento, no Bingo Divino, Deus tirou a bolinha da noite e nela estava escrito: Marco Olsen.

— Nossa, eu amo Thomas Pynchon! Não acreditei quando, de longe, reconheci a Trompa e tal.

Seria verdade? Quanto de alucinação meia garrafa de absinto poderia conter? É claro que sempre havia sonhado com um momento como aquele — e já havia imaginado trocentas vezes como agiria — mas tudo que conseguiu dizer foi:

— Eu prefiro o Arco Íris da Gravidade.

Existem momento mágicos na vida de todo mundo. As pessoas reagem a eles de maneiras diversas — tirando fotos, dando gargalhadas, beijando, chorando, agradecendo a Deus, socos no ar.

Marco poderia ter feito tudo isso, mas não era muito dado a emoções. Pelo contrário, costumava fugir delas. Mas, naquele momento, imbuído de uma emoção extrema e, já apaixonado pela menina, disse apenas:

— Olha, se você disser que também ama o Bandini, eu te peço em casamento!

A menina, obviamente, gostava, como também gostava de Salinger e até fazia o “Silly Walk” do Monty Python. O Bingo Divino caprichava, mas disto ninguém tem dúvidas. Uma norueguesa linda e com os melhores gostos culturais do mundo parecia ser a materialização de todos os sonhos de Marco nesta e nas suas vidas passadas e futuras. Precisava se lembrar de andar com uma aliança no bolso.

Já havia bebido bastante mas, de repente, sentia-se sóbrio. Ficou feliz ao ver que a menina carregava uma latinha de Snus. Convidou-a para a beira do lago, onde poderiam, deitados, conversar ao sabor de Snus (preto, comme Il faut) e quem sabe, com sorte, observar a aurora boral.

- Com prazer - respondeu a menina - embora não estejamos boreais o suficiente para isso.

Sorriu internamente com a bem humorada resposta e caminharam para o lago, onde passaram a noite conversando, sem parar por um minuto sequer, até adormecerem, juntinhos, como se nunca houvesse sido diferente.

Acordou com o sol na cara e uma sede terrível. Levantou-se, bebeu água do lago e olhou para a menina. Lembrou-se que havia se esquecido de lhe perguntar o nome. O sol na cara a deixava com um aspecto ainda mais apaixonante - bochechas rosadas sempre foram um bônus em sua escala de beleza feminina.

Cutucou-a com o pé e, quando pareceu um pouco desperta, lhe perguntou o nome.

Ela deu uma longa bocejada, abriu levemente seus lindos olhos azuis e, com um sorriso discreto, lhe respondeu de modo angelical, tão doce, que nem trinta Yeats juntos seriam capazes de produzir tamanha poesia em tão curto espaço de tempo.

Ela era um anjo encarnado, e ele estava terrivelmente apaixonado como nunca estivera antes. Definitivamente, havia encontrado a mulher de sua vida!

Entrou correndo na cabana, juntou suas coisas, colocou a mochila nas costas e, gritando, fez o que todo homem faria numa hora dessas: fugiu.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Dos Grandes Começos de Livros

Irônicamente, vou citar o início de um livro que não li: topei com ele por aí e achei fantástico, dos melhores que já li (prometo um Top 5 em breve).

E, com um começo desses, vou sair correndo pra comprar o livro hoje para ler no final-de-semana.

Senhoras e Senhores, com vocês o espetacular início de "Um Conto de Duas Cidades", de Charles Dickens.

"It was the best of times, it was the worst of times, it was the age of wisdom, it was the age of foolishness, it was the epoch of belief, it was the epoch of incredulity, it was the season of Light, it was the season of Darkness, it was the spring of hope, it was the winter of despair, we had everything before us, we had nothing before us, we were all going direct to Heaven, we were all going direct the other way".

Pequenas Biografias

Igor Ivanovitch Svenestky - Inventor do Strognoff


- Mas quem pf#*#%&@ cortou essa carne?

Atribuir grandes feitos da humanidade ao acaso seria assaz determista para uma mente do Sec. XXI, mas talvez isso não esteja muito longe da verdade. Pelo menos no caso de uma de nossas maravilhas culinárias, o strogonoff.

Corria o ano de 1714. São Petersburgo, a nova capital do Império Russo fundada 11 anos antes, ainda não era o que se poderia chamar de cidade (mas, ao contrário de Brasília, tornou-se uma cidade posteriormente- e que cidade!). Construída sobre uma grande pântano para ser a face ocidental do Império, a cidade passou a ser capital em 1712. Neste ano boa parte da corte foi "gentilmente convidada" por Pedro, o Grande, a se mudar de Moscou e ajudar na ocupação e ocidentalização da cidade.

Foi mais ou menos por esta época que Igor voltou ao seu país.

Filho de um casal de mujiques dos Montes Urais, Igor, ainda jovem, desenvolveu o gosto pela gastronomia. Passava horas em busca de cogumelos e ervas para experimentar novas receitas para os poucos dias em que a família conseguia comer carne. Cansado da pobreza e isolamento da região, saiu de casa ao 14 anos rumo à Meca da boa mesa, Paris.

Os primeiros anos na cidade luz foram duros. Demorou para aprender o francês e teve que se virar com restos de comida que conseguia pegar nas lixeiras dos restaurantes. Após três anos de miséria, porém, viu sua vida mudar ao salvar de um atropelamento uma pequena criança, filha de uma casal da corte francesa. Muito agradecida, a mãe resolveu acolher o jovem em sua casa e passou a cuidar de sua educação.

Igor passou a viver em um ambiente que nunca imaginou existir, mesmo estando entre os servos. Era muito querido por todos. Passou a trabalhar na cozinha ajudando na preparação dos molhos. Rapidamente, se tornou um dos melhores saucier da corte. Aos 20 anos de idade atingiu o que, pensava, seria seu auge: preparou um dos molhos de faisão para um jantar de recepção para Guilherme III, que havia se tornado Rei da Inglaterra recentemente. "Eu servi o Rei da Inglaterra!", passou a bradar pelo quatro cantos o jovem Igor.

Pouco tempo depois, tornou-se Saucier do Palácio Real, onde passou a trabalhar com o grande Bernard de Politisierre, considerado um dos pais da moderna cozinha francesa. Nem em seus melhores sonhos o pobre filho de Mujiques dos Urais poderia se imaginar na posição que estava.

Alguns anos depois, Pedro, o Grande, manda uma delegação à França para estudar o modus operandi da corte e implementá-lo na Rússia em seu desejo de ocidentalização. Não bastava uma nova capital com ares ocidentais: era preciso mudar os hábitos da arcaica e um tanto grosseira nobreza russa de então. Igor passou a ser o homem oficial de ligação das artes culinárias com a delegação russa.

A vida na corte francesa não era de toda má - muito pelo contrário - o que foi levando a delegação russa a adiar sua volta - não parecia nada interessante ter que ir a ao pântano que ainda era São Petersuburgo abandonando as maravilhas que, anos mais tarde, levariam o povo francês a ser insurgir contra seus governantes.

Mas, em 1712, Pedro transfere oficialmente a capital de Moscou para São Petersburgo e ordena a volta da delegação: todas as famílias nobres do país estavam de mudança para a nova capital e este era o momento da ocidentalização de todos. Com algum pesar Wasilly, o chefe da delegação, anuncia oficialmente a volta. Na véspera da saída, um grande banquete seria oferecido. Wasilly, que havia se tornado um grande admirador dos molhos de Igor, fez apenas um pedido: que Igor fosse o chefe de cozinha para este banquete. Wassily pretendia levá-lo para São Petersburgo e o teste final seria o banquete.

Igor sentiu que seria a chance de sua vida. Uma banquete francês não seria uma boa idéia - havia milhares de bons chefes de cozinha por aí fazendo o mesmo e o maior deles era seu chefe; seguir a cozinha russa tradicional seria uma péssima idéia: há tempos a Europa havia banido os banquetes medievais. Resolveu, então, que este seria o seu grande dia para lançar a Nouvelle Cuisine Russe, uma ponte entre o ocidente e o oriente. Estava a par dos planos do Czar e, em seus grandes sonhos, se imaginava servindo pessoalmente o Czar Pedro, o maior de todos os governanente do mundo!

Sua idéia era simples (mas ele a achava genial): servir um prato principal de carne de vaca mal passada coberta com alho e acompanhada de batatas gratinadas (uma espécie de Filé à Oswaldo Aranha de 300 anos atrás). Todos esperariam dele mais um grande molho, pelos quais era famoso, mas a surpresa mostraria uma versatilidade que o credenciaria a qualquer papel no mundo culinário (e o levaria ao Czar que, sabidamente, sofria de úlceras e não comia muitos molhos).

No grande dia, Igor não cabia em si de excitação. Não havia pregado o olho ao longo da noite pensando em todos os detalhes do grande banquete. Wasilly o adoraria! O ajudariam na cozinha três conzinheiros franceses e oito russos, da delegação. Igor passou a manhã escrevendo um manifesto da nova culiária russa - dizem que o tom panfletário inspirou Marx e Engels algumas décadas mais tarde - e o fato de seu manifesto ter ido parar em Londres só reforça a tese (negada veemente por comunistas históricos). A maior revolução culinária que a humanindade já havia experimentado desde o alimento cozido estava prestes a acontecer!

No meio da tarde se encaminhou a cozinha e juntou todos os seus ajudantes. Discursou durante exatos 55 minutos (não havia cozinheiros suiços e, portanto, tal número pode não ser de todo correto), chorou, gritou, exaltou deuses gregos e divindades africanas, finalizando com o papel de destaque que a Grande Rússia deveria ocupar no mundo pela via gastronômica (o que, de fato, aconteceu no mundo etílico via Vodka, ironicamente, de um certo modo, por culpa dele).Todos então se colocaram a postos e deram início ao trabalho.

Igor se sentia muito bem, alternando russo e francês com perfeição. Tudo já estava devidamente ensaiado e testado, das entradas à sobremesa, com exceção da grande surpresa.

O banquete transcorria sem problemas, comme il faut: a banda tocava, os convidados riam, homens galanteavam mulheres, que ficavam vermelhas. Era chegada a hora de preparação de seu grande prato.

Ficou nervoso pela primeira vez: e se não gostassem? Mas, como não gostariam se era tão bom?

Leoned, um dos cozinheiros russos, já estava completamente bêbeado e, estando sem fazer nada há meia hora, resolveu brincar com os ingredientes da cozinha. Estivera, há muito tempo, em uma taberna romana onde se servia um famoso ensopado para curar ressaca - uma receita de origem francesa e quase dois mil anos, que havia originado a decadência de Roma, segundo alguns historiadores. Ele havia ido parabenizar o cozinheiro pela maravilha e perguntado sobre os ingredientes. Tentava se lembrar deles agora, já antevendo uma terrível ressaca para o dia seguinte.

Não achou sabão de massília e não teve coragem de usar uma galinha com penas. De resto, parecia haver tudo que era necessário: champignon, mostarda, conhaque, molho inglês, alho, cebola, louros, sal, pimenta e outras especiarias. Talvez não fosse tão eficaz quanto o original mas algum sucesso haveria de ter. Pensava nisso quando um grito atravessou o céu:

- Mas quem pf#*#%&@ cortou essa carne?

Igor se desesperara: um dos cozinheiros franceses havia cortado todos os bifes em pequenos pedaços! Igor o havia confundido com um dos russos na confusão e passou uma ordem em russo, que o francês, também embuído do espírito etílico de seus companheiros russos, jurou ser uma ordem em francês para cortar os bifes em pequenos cubos.

Não havia o que fazer: seu bife com alho estava irremediavelmente perdido! Adeus glória, mulheres, bebidas, o Czar! Igor chorava num canto quando viu a panela de Leopold fervendo com um denso molho dentro. Indagou o que era e ouviu toda a história do ensapado anti-ressaca.

E já que estava tudo irremediavelmente perdido, por quê não tentar uma cartada ousada? Mesmo que não fosse o melhor dos pratos, ao menos os banqueteiros não acordariam de ressaca e talvez, com o tempo, tivessem uma boa lembrança do banquete. Talvez ele não fosse enforcado, o que já seria uma grande coisa!

Passou os pedacinhos de carne na manteiga e misturou ao molho. Em 5 minutos, inventou uma grande justificativa para o nascente prato. Não seria a revolução culinária que ele esparava, mas ao menos invocaria o espírito da Grande Rússia que o Czar tanto queria.

Reza a lenda que Wassily, ao terminar seu prato, exclamou: supimpa!

Igor voltou ao seu país de origem como herói. Foi recebido pelo Czar em pessoa, que havia provado seu prato e adorado. Melhor: não sentira os efeitos da úlcera no dia seguinte - e hoje se sabe que o efeito neutralizante sobre a vodka teve grande influência nisto.

Em poucos anos o prato ficou famoso na Rússia - sendo vorazmente consumido da nobreza aos mujiques. Igor, com a fama, passou a beber, pegou sífilis e acabou no ostracismo. O herói que passou para a história foi Wassily que, com o sucesso da missão na França, recebeu o título de Conde de Strgonoff, batizando o prato. O resto é história.

Ironicamente, Igor, aqui resgatado das trevas da história, contribuiu decisivamente para a não ocidentalização de seu país e muitos dos problemas posteriores por ele enfrentados, como o comunismo e o alcoolismo. Espera-se que, com este simples relato, um dos grandes nomes da culinária mundial seja resgatado do ostracismo tendo, 300 anos depois, a fama que merece.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Dos Grandes Clássicos Que Não Li

Os 10 Pecados de Paulo Coelho - Eloésio Paulo

"A leitura de Os 10 pecados... é um convite à reflexão a respeito das amplas possibilidades da mistificação no ambiente cultural contemporâneo. E, embora teoricamente despretensioso, promete conter também a principal explicação para o sucesso internacional de Paulo Coelho."

"A maior obra de Paulo Coelho é Eu nasci há dez mil anos atrás. Entre os livros e um Fish 'n
Chips, fico com o segundo" - Dr. Edward Pointsman, KBE

O meio cultural não é um lugar para os humildes. Todos acreditam que, no fundo, são muito melhores que os outros, mesmo os de mais sucesso e, por um detalhe do destino (ou ignorância das massas), não fizeram o sucesso que mereciam. Um ambiente marcado pela subjetividade é, óbviamente, propício a isso. Não dá para se achar o Deus da Matemática sem conseguir resolver uma integral um pouco mais complicadinha, embora seja possível olhar com desdém o estupendo Reparação, do McEwan, achando que não é lá grandes coisas e uma imenso plágio de um livro infanto-juvenil japonês (não foi bem isso mas, metaforicamente, foi).

Do alto de nossa arrogância é claro que desdenhamos, e muito, de Paulo Coelho. Desdenhamos tanto que nem chegamos a falar sobre ele, certo? Talvez as únicas vezes que tenha falado sobre PC tenha sido em conversas com européias (e o que não fazemos por elas, não é mesmo?), que costumam ler e gostar do bruxo (sic) - e depois do bruxo do Cosme Velho o termo deveria ser aposentado como se faz com as camisas de grandes jogadores de basquete nos EUA. De resto, um silêncio total mostrando que muitas vezes não vale a pena visitar o mundo de Hades literário nem mesmo bêbado às três da manhã.

Mas, bem, temos aqui um professor-doutor de uma universidade federal escrevendo um livro sobre PC, supostamente despretensiosamente. O que o levaria a isso? Talvez seja um preguiçoso como nosso amigo francês, fingindo ler Cortázar perante os seus mas consumindo vorazmente a obra de Sydney Sheldon escondido no porão de sua casa. Talvez seja um imenso rancor - por quê ele e não eu? - e, já que não me vendo sozinho, vamos embarcar na fama de alguém. Fico com as duas.

Mas vamos ao livro, e nada melhor do que uma análise dos seus pecados:

1. Não se fala sobre quem se despreza
2. Não se despreza quem se inveja
3. Não se inveja quem não presta
4. Não se discute Paulo Coelho, se aceita Paulo Coelho como um fenômeno de massas
5. Seja construtivo e não destrutivo
6. Não se compara Paulo Coelho aos "cultos neopetencostais cujo poder midiático já inquieta a democracia brasileira"
7. Não se lê Paulo Coelho nem uma vez, quanto mais inúmeras
8. Paulo Coelho é músico, não escritor
9. Não esconda uma obra pretensiosa numa suposta humildade - "escrevi isso enquanto esperava minha conexão para Denver no aeroporto de Atlanta"
10. Nunca, jamais, em hipótese alguma, uma pessoa terá a "principal explicação" para coisa alguma - e Popper já nos ensinou que mesmo os melhores teoremas só são definitivos enquanto não forem falseados

Mas por quê mesmo estamos falando desse livro?

Vou colocar minha coletânea do Raul Seixas...

terça-feira, 15 de julho de 2008

Dos Grandes Clássicos Literários Que Não Li

Como Falar de Livros Que Não Lemos - Pierre Bayard

"Guia de sobrevivência nas rodas de bate-papo" - The New York Times
"Bayard ensina como fingir um orgasmo literário" - The observer
"Uma boa idéia, mas assaz afrancesada para o meu paladar britânico refinado" - Dr. Edward Pointsman, KBE

Bayard é um típico professor universitário francês. Nunca o vi e pouco sei sobre ele, mas tenho certeza que tem cabelos brancos desgrenhados, usa calças coloridas, camisas sociais amarrotadas (um mal da França) ou gola rolê (o maior mal de todos os tempos da França - em discussão para proibição na Convenção de Genebra) e uma terrível cara de bobo. Dirige (mal) um pequeno Renault e adora almoçar no Café Jade, ali por perto da Universidade de Paris, onde desdenha de tudo e todos junto a seus amigos: uma psicanalista que não faz sexo há 11 anos (e não por ter se decidido assim), um escritor de contos "brilhantes" que conseguiu ser traduzido na Romênia e ex-pastor que hoje dedica seu tempo ao estudo dos pássaros de Provence.

Bayard cresceu e vive em um ambiente de alta competição intelectual - talvez a única coisa em que a França seja competitiva - onde cada frase deve ser pontuada por uma referência cultural esquisita ou um deboche sutil aos americanos. Incapaz de competir com seus colegas professores na quantidade de livros lidos - dizem que era bom em beber vinhos mas um tanto preguiçoso na leitura - e cada vez mais oprimido pelo massacrante sistema de competitividade francês, Bayard resolveu que não aguntava mais aquilo e fez o que nos Estados Unidos seria o equivalente a entrar numa escola atirando em todo mundo: escreveu um livro confessando que não leu quase nada "que importa" em literatura, que é um preguiçoso, e tentando provar que não tem nada errado com isso - um manifesto ao "ignorante sim, e daí?".

Não li o livro do rapaz (não por preguiça, mas por ser chato mesmo) mas vou escrever a respeito.

Primeiro, parabenizar Bayard pela pela coragem em sair do terrível sistema francês de competição. Mais alguns meses e o sujeito se muda para Nova Iorque e se emprega num banco de investimentos - já posso vislumbrar no futuro um livro sobre como ninguém sabe nada de nada em mesas de operação dos bancos de investimento.

Ademais, ele faz uma categorização dos livros em: livros que não lemos, os que folheamos, aqueles dos quais ouvimos falar e os que esquecemos. Preguiçosa, como tudo no rapaz (dizem que ele pega o carro para ir comprar pão a dois quarteirões de casa e difilmente sai de Paris). Calvino, no seu brilhante Se Um Viajante Numa Noite de inverno fez uma descrição muito, mas muito melhor e detalhada no tema - e nem é preciso ler o livro do Calvino, tal descrição é o primeiro capítulo (ele já deve ter folheado o livro num dia menos preguiçoso).

De resto, deve ser um livro chato pra burro. Em primeiro lugar por ser francês contemporâneo. Em segundo lugar, porque o sujeito deve querer mostrar o tempo inteiro que na verdade ele é genial pra burro e não o colega de faculdade que leu Ulysses 38 vezes em 9 diferente línguas e 1 dialeto (algo que o C3PO faria muito melhor, diga-se de passagem) e passou os últimos anos o humilhando por ele não ter conseguido terminar O Arco íris da Gravidade. Em terceiro lugar, porque eu assim decidi.

Não li e não gostei, mas achei a idéia bacana.

Para mostrar que não sou de todo desprovido de razão, um trecho do livro:

"a não-leitura não é a ausência de leitura. Ela é uma ação verdadeira, que consiste em se organizar em relação à imensidão de livros, a fim de não se deixar submergir por eles. Por isso, ela merece ser defendida e até ensinada".

Dos Problemas da FIFA

É sabido que a Espanha não é um país, mas um amontoado de pessoas de diferentes origens unidas sob o pretexto de serem maiores que o vizinho pobre, Portugal. Ou, talvez, de conseguirem juntar um time de futebol decente o suficiente para vencerem a Eurocopa.

Mas, os jogadores da Fúria não têm outra motivação que não a econômica. Um Catalão deve achar o brasileiro Marcos Sena tão estrangeiro quanto, digamos, seu companheiro de zaga Basco. Que detesta seu reserva da Galícia.

Problema que se torna ainda maior na hora do hino.

Com o intuito de trazer mais "emoção" e menos "capitalização" ao esporte (e também como um claro confronto à União Européia por parte da entidade baseada na Suiça, dizem os críticos), a FIFA desenvolveu estudos para que se adotem salvaguardas regionais para o hino e talvez as camisas.

Com isso, seria permitido que a se tocasse o hino de cada uma das regiões representadas antes do ínicio da partida, em adição ao hino espanhol que não interessa a ninguém mesmo.

Um teste secreto foi desenvolvido recentemente numa partida amistosa entre Espanha e Andorra, onde jornalistas não puderam entrar. Segundos fontes locais, o resultado foi desastroso: 39 bandas diferentes tocando 39 canções diferentes numa cacofonia que revirou Stravinsky no túmulo.

A Federação Espanhola tentou mais uma vez, desta vez num jogo amistoso contra Togo e com a presença de jornalistas. Era clara a tentativa, por parte de algumas bandas, de se sobressair. A banda catalã trouxe 123 componentes paramentados. A representante da Galícia instalou megafones nos instrumentos, e a pequena, porém briosa, banda ceuta trouxe algumas britadeiras para servir de pano de fundo ao seu truncado hino. A grande surpresa, porém, veio da banda basca que, ao invés de tocar, se infiltrou na organizada banda de Madrid e, ao final, explodiu seus instrumentos-bomba.

A Interpol já está investigando as bandas da Chechênia e do Kossovo.

Ode a Pavlov

Ivan Petrovich Pavlov foi o maior médico que já pisou o Império Russo. Sua grande contribuição ao mundo foi desenvolver estudos sobre o reflexo condicionado, ou seja, o papel do condicionamento na psicologia do comportamento.

Estudando a produção de saliva de cães expostos a diversos tipos de estímulos, nosso Guru percebeu que com o tempo a salivação passava a ocorrer diante de estímulos que anteriormente nào causavam tal comportamento.

Com isso, desenvolveu a teoria do condicionamento clássico, cuja idéia básica é que algumas respostas comportamentais são inatas, e não aprendidas, e outras são reflexos condicionados, aprendidas.

Este blog será absurdamente pavloviano. Uma discussão altamente científica sobre o cotidiano banal. Irá escrever muito sobre livros não lidos, filmes não vistos, com detalhes sobre o porquê de serem tão ruins ou tão bons.

Como exemplo bobo: um post sobre o obra-prima de PT Anderson a ser finalizada em 2011. Ou o péssimo lançamento de Garcia Marquez ano que vem.

Que Pavlov nos ilumine a todos com a força do Bebê Alvez.