quarta-feira, 30 de julho de 2008

Dos Grandes Clássicos Literários Que Não Li

Tudo Que Você Pensa, Pense ao Contrário - Paul Arden

“Brilhante, da pesada, encantador, irrascível e totalmente excêntrico — Paul Arden é um pensador original com extraordinário ímpeto e energia, abençoado com um gênio criativo aliado a um tipo de bom senso que não é nada comum.” - Roger Kennedy, Saatchi Saatchi

"Eu gostei do livro" - Dr. Edward Pointsman, KBE, logo após a leitura


Eu nunca soube que a Bíblia tinha sido escrita por Paul Arden: na capa do livro, abaixo do título, há "Paul Arden, autor do livro mais vendido do mundo".

Mas, bem: de escritor da Bíblia a escritor de livros de auto-ajuda reversa. Um passo e tanto. Para trás.

Paul Arden é um publicitário de sucesso. Roberto Justus também é um publicitário de sucesso, o que acaba com o primeiro grande argumento a favor do livro. Talvez a palavra sucesso seja um contra-argumento poderoso a qualquer um que se pretenda bom. A grande recomendação do livro também parece vir de um publicitário de sucesso, talvez seu ex-estagiário na empresa onde trabalhou por anos e anos. Tem algo muito errado.

O processo de criação de livros de auto-ajuda é simples: invente uma fórmula - qualquer uma, não importa -, desenvolva-a do modo mais raso e direto possível para que até um macaco lobotomizado a entenda e passe o resto do livro embromando. Ache a editora certa, coloque-o à venda por R$ 29,90, anuncie na parte traseira dos ônibus e, voila!, você será um sucesso. Talvez venda até mesmo mais do que a Bíblia e desbanque Paul Arden.

Mas, voltando ao livro: o autor, supostamente, faz uma crítica aos livros de auto-ajuda "que estão por aí", livros que seguem uma lógica associada ao senso comum e rudimentos de psicologia. "O problema de tomar decisões sensatas é que o mundo está fazendo o mesmo". Até aí, brilhante: estaria o autor proponda uma "tática Coringa" para espalhar o caos pelo mundo?

Obviamente, longe disso. O autor passa o resto do livro tentando nos provar que a pessoa precisa ser ousada. E só. Por trás de citações de filósofos, cientistas, políticos e dinossauros extintos, uma lógica que consegue ser mais rasa do que a dos livros que ele critica. "Me surpreenda" é o mantra de Paul Arden, do começo ao fim do livro. Ser ousado me parece um tantinho diferente de não tomar decisões sensatas. Ou ousadia e sensatez são conceitos excludentes?

O livro, claro, é sempre cheio de exemplos. Um deles: Paul Arden, um homem nu ao seu lado e uma platéia. O mote: "esse cara nu poder ser qualquer coisa: milionário, ministro, padeiro. Basta querer". Uau! Tivesse o homem nu lido o livro, poderia surpreendê-lo: "eu sou economista", poderia gritar e acabar com a palestra; poderia tocar um orgão e gritar "it's", que é tudo que se espera de um organista nu; poderia até mesmo matá-lo ("posso ser um assassino, há"), que seria a mais sensata coisa a se fazer segundo os sábios ensinamentos do Justus inglês.

E, por fim, há o grande paradoxo do livro: se tudo que eu pensar, pensar ao contrário, cria-se um círculo vicioso sem fim: eu penso de novo ao contrário, e de novo, e de novo, criando um campo de pensamento e anti-pensamento que pode levar a um buraco negro mental. Talvez isso aconteça com aqueles que seguirem os ensinamentos. Certeza de que isso aconteceu com o autor.

Melhor ficar com a Bíblia.

Um comentário:

Unknown disse...

Alguém tem uma cópia do cd do Roberto Justus pra me emprestar?

A Piauí bem podia fazer uma promoção: "Assine a revista e ganhe gratuitamente um cd do Justus!